25 abril 2024

O QUE É QUE SE PODE ENTENDER POR «INFORMAR PREVIAMENTE» DA DEMISSÃO A PRÓPRIA PESSOA A QUEM SE DEVE APRESENTAR ESSA MESMA DEMISSÃO?...

Parece-me evidente que estas duas jornalistas do Expresso - Rita Ferreira e Vera Lúcia Arreigoso - não percebem nada das circunstâncias do assunto sobre o qual escrevem. Como é que alguém, no caso o Director Executivo do SNS, poderia informar «previamente a ministra da Saúde» da sua demissão, se a transmissão dessa informação passaria a ser automaticamente o acto (de demissão) em si? As jornalistas não percebem o paradoxo do que escreveram? Não devem ter percebido e é por isso que se pode alcunhar aqueles aplicativos - como o ChatGPT - de inteligência artificial. Quando comparados com exemplos destes de estupidez natural, tem que se aceitar que eles acabem por merecer o primeiro epíteto. Não propriamente pela inteligência do que fazem, mas por causa da estupidez das pessoas que eles substituem...

MAIS CRAVOS EM ARMAS ERRADAS

(Republicação a propósito do cinquentenário)
Já aqui escrevera, no 25 de Abril do ano passado, sobre cravos colocados nas armas erradas. Regresso ao tema, observando a forma displicentemente ligeira como, por vezes, o tema dos cravos do 25 de Abril é tratado. A silhueta da arma da figura acima, por exemplo, é facilmente reconhecível como uma AK-47, uma arma de origem soviética. Para além do erro factual (Portugal sempre pertenceu à NATO, seria impossível que os seus soldados usassem armas daquela proveniência em 1974), e com a ignorância mais do que provável dos autores da montagem, aquela arma pode prestar-se a interpretações maliciosas (mas quiçá pertinentes) sobre a influência que o marxismo-leninismo teve no desvio dos ideais originais do 25 de Abril, só posteriormente corrigidas a 25 de Novembro de 1975.

Aliás, desconhecido de muitos, a começar pelos portugueses, a associação entre cravos e armas individuais de infantaria, especialmente as de origem soviética, é um fenómeno bem mais antigo do que 1974. Abaixo podemos ver um cartaz polaco dos anos próximos do fim da Segunda Guerra Mundial, da época em que vigorava uma amizade fraterna entre russos e polacos. Do ponto de mira da arma (uma PPSh de origem soviética) vêm-se sair dois cravos, um vermelho outro branco, representativos das cores nacionais da Polónia. Apesar de se tratar de uma estética bem conseguida, não consta que os cravos tivessem adquirido grande significado simbólico entre os polacos... Deve ter sido porque lá na Polónia daqueles anos os cravos da Liberdade não se davam muito bem por causa do clima

O CRAVO NA ARMA ERRADA

(Republicação a propósito do cinquentenário)
A fotografia acima, pretendendo passar por uma fotografia do 25 de Abril, não pode ser considerada uma verdadeira fotografia simbólica do 25 de Abril. Mesmo que o cravo e a boa disposição manifestada pelos fotografados estejam adequados ao evento, a arma onde a rapariga deposita o cravo está errada – trata-se de uma espingarda Mauser e não de uma G-3 – e o soldado é afinal um graduado da Guarda Nacional Republicana (GNR). Recorde-se que foi entre a GNR, no quartel do Carmo, que o presidente do conselho Marcelo Caetano se refugiou antes de se vir a render. Nada impede que os seus militares tivessem depois aderido ao espírito do acontecimento mas, institucionalmente, a GNR foi um dos vencidos do dia.

AINDA IMAGENS DO 25 de ABRIL ORIGINAL: A PRISÃO DO PIDE

(Republicação a propósito do cinquentenário)
O rebranding que fora promovido em 1969 sob Marcello Caetano nunca funcionara: a antiga Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) mudara o seu nome para Direcção Geral de Segurança (DGS), mas a manutenção de tudo o resto, competências, estrutura, director (major Silva Pais) fizera com que, a justo título, a instituição e os seus agentes continuassem a ser designados pelo nome de sempre: a PIDE, um pide. Na fotografia é um deles que é preso por quatro soldados diante de uma assistência de outros tantos populares que parecem assistir, não da bancada mas do peão, à Revolução que se desenrola a 25 de Abril. A roupa a secar numa varanda e meio anúncio luminoso de uma loja de Gazcidla (o gás engarrafado consumido pelas classes baixas) confirmam o retoque popular da imagem.

25 DE ABRIL DE 1974

Reportagens de época da televisão francesa (acima) e britânica (abaixo). Mais do que os acontecimentos, servem ambas para recordar como éramos então vistos no resto da Europa.

24 abril 2024

O ESPIÃO QUE FOI PRESO NA VÉSPERA DO 25 DE ABRIL

(Republicação)
A história passou praticamente desapercebida em Portugal, porque ocorreu quase toda durante a fase eufórica que vai do 25 de Abril de 1974 até ao 1º de Maio, mas um dos maiores, senão mesmo o maior escândalo de espionagem ocorreu na Alemanha Federal durante esse período. Depois de uma investigação metódica dos seus serviços de contra-espionagem, o governo alemão descobriu que um dos homens de maior confiança do chefe do governo, o Chanceler Willy Brandt, havia sido, desde sempre, um espião plantado pelos serviços de informações da vizinha e rival Alemanha Democrática (abaixo).
De seu nome Günter Guillaume, o homem que conquistara a confiança de Brandt viera do Leste em 1956 no meio dos quase 2.750.000 alemães que atravessaram a fronteira no mesmo sentido entre 1949 (data da fundação das duas Repúblicas alemãs rivais) e 1961 (data da construção do Muro de Berlim). Só que Guillaume vinha com instruções específicas de Markus Wolf (abaixo) – hoje considerado uma referência entre os profissionais da espionagem – para se infiltrar no aparelho político do SPD (o Partido Social Democrata da Alemanha Federal), o que ele fez com o sucesso que agora se conhecia…
A prisão de Guillaume, quando as provas angariadas contra si já eram indesmentíveis, ocorreu precisamente a 24 de Abril de 1974 e foram, e aqui o termo pode empregar-se com propriedade, um verdadeiro terramoto político. Tanto mais que o próprio visado assumiu imediatamente a verdade, mal foi preso. Embora tenha vindo a compor o seu comportamento nas suas memórias (*), a verdade é que Willy Brandt ainda tentou minorar os estragos e verificar as suas possibilidades de sobrevivência política. Só dali a duas semanas (6 de Maio) é que se demitiu e, mesmo assim, só do cargo governamental de Chanceler.
Willy Brandt foi substituído no cargo de Chanceler por Helmut Schmidt (acima). Interditado a partir dali de ocupar quaisquer lugares de relevo, Brandt passou os anos que se seguiram a mexer os cordelinhos nos bastidores, quer com o cargo (que reteve até 1987) de presidente do SPD, quer com o de presidente da Internacional Socialista até 1992, que foi também o ano da sua morte. Quanto a Günter Guillaume, ele foi julgado e condenado a uma pena de 13 anos de prisão. Acabou por cumprir apenas metade da pena, porque em 1981 veio a ser libertado numa troca de espiões entre Leste e Oeste.
Curiosamente, nesse mesmo ano de 1981, uma operação que teria causado na Alemanha Democrática um embaraço simétrico à do Caso Guillaume, foi evitada: um quadro dos serviços de espionagem da RDA chamado Werner Teske tinha estado a preparar-se para desertar para o Ocidente (**) levando um amplo dossier com as actividades do seu serviço quando foi descoberto, julgado, condenado e executado. Tudo isso se passou no maior silêncio informativo e só se veio a descobrir depois da queda do Muro. É por comparar casos destes que sempre achei que em vez das mais amplas liberdades democráticas foi sempre preferível usufruir das outras

(*) – A versão que agora se tenta fazer correr é que Brandt já estava muito desgastado politicamente naquela altura e que se demitiu por outras causas que não o escândalo. É preciso frisar que Willy Brandt sempre desfrutou desde o princípio da sua carreira, como burgomestre de Berlim, de uma boa publicidade na imprensa, nomeadamente do maior grupo editorial alemão, o de Axel Springer.
(**) – Houvera um outro desertor, mas de menor graduação, chamado Werner Stiller, que fora bem sucedido em Janeiro de 1979.

EM DEMOCRACIA, O PASSADO NÃO SE CONSEGUE REESCREVER A GOSTO

Em vésperas do cinquentenário do 25 de Abril, surge-nos esta tentativa subtil do presidente da República de tentar recontar a narrativa do episódio das gémeas que o chamuscou. Este é um exemplo oportuno das mansardas que Abril abriu, a separação cristalina entre a Democracia e a ditadura (sejam elas de que sinal forem...). Em Democracia, o protagonista político que tenta reescrever o passado conforme lhe conviria acaba sendo ridicularizado por isso.

HISTÓRIAS PROSAICAS QUE NÃO CONTRIBUIRAM PARA A ALVORADA DE ABRIL

Quarta Feira, 24 de Abril de 1974. Na véspera do 25 de Abril, numa página interior (p. 16) do Diário de Lisboa, dava-se nota de que a UEFA varrera para debaixo do tapete uma tentativa de suborno - fracassada - a um árbitro português que fora denunciada pelo jornal britânico Sunday Times. O caso, que datava já da época anterior (1973), fora protagonizado por dirigentes da Juventus num jogo da meia-final da Taça dos Campeões Europeus contra o Derby County e a descrição das medidas tomadas pelo UEFA para investigar aquilo que acontecera evidenciava o amadorismo inepto - voluntário ou não... - das autoridades do futebol europeu. Neste caso, e para variar das tradicionais insinuações sobre as arbitragens domésticas, vale a pena elogiar Francisco Lobo, porque se assistia a um árbitro português que se mostrava demasiado honesto para os padrões europeus...

23 abril 2024

«MY BOY LOLLIPOP»

Há canções que que sabemos que sabemos, sem saber porque é, ou como é, que as sabemos. Mas estão cá dentro do ouvido. É o caso desta «My boy lollipop», um sucesso na Europa em ritmo cafrializado (mais tarde classificá-lo-ão de ska) e que já tem sessenta anos.

SEBASTIÃO É JORNALISTA, NA OPINIÃO DO JOÃO MIGUEL TAVARES

O artigo de opinião de hoje de João Miguel Tavares no Público aplica-se em desancar em Sebastião Bugalho por causa da notícia que o dá - a Bugalho - como próximo cabeça de lista do PSD às eleições europeias. Mas aquilo que eu mais gostei aparece na caixa de comentários do referido artigo. Ao comentário de um - pelo menos para mim - incógnito Paulo Batista, que recusa o atributo de jornalista a(o) Sebastião (uma forma de tratamento que, para mim, indicia proximidade com o visado), o autor apressa-se a responder - dez minutos depois - qualificando-o como jornalista: É jornalista, sim.

Retiro pelo menos duas conclusões interessantes do episódio. A primeira é que João Miguel Tavares se levanta bastante cedo: o seu comentário data das 06:25 da manhã. A segunda é que estaremos perante uma divergência de opinião intransponível: não vale a pena discutir este assunto com João Miguel Tavares, assim como não valeria a pena discutir com Donald Trump as eleições presidenciais que ele, Trmp, perdeu em 2020. É ridícula esta elasticidade que, tornaria possível classificar Sebastião Bugalho como jornalista, e que tornaria por sua vez possível que José Miguel Júdice ou Luís Marques Mendes fossem classificados como jornalistas, estes talvez só jornalistas em part-time, mas mesmo assim...
(Outro jornalista...)

A GOLPADA

Terça-Feira, 23 de Abril de 1974, 21h45. Estreia do filme A Golpada, enquanto O Golpe estava previsto para dali a dois dias...
E precisamente por causa d'O Golpe (e da torrente noticiosa que ele veio a desencadear), a crítica ao filme A Golpada só veio a ser publicada mais de três semanas depois da estreia...

SE ISTO É UMA «RENOVAÇÃO A 100%», VOU ALI E JÁ NEM VOLTO...

Se a renovação, conforme o PS a pretende impingir, é uma renovação total da lista socialista, então esta fotografia acima de Maio de 2014, exibindo Francisco Assis como o cabeça de lista do PS àquelas eleições arrisca-se a ser uma fraude. Ou então não é. E o que aconteceu é que esta renovação é uma renovação em relação à anterior renovação (de 2019), mas que envolve elementos como Assis, que tinham sido a renovação anterior (de 2014) a essa última renovação. Como se pode apreciar pela foto, a renovação de 2014 chamava-se mudança, mas a ideia parece assemelhar-se. Embora com muito menos impacto, esta confusão da mensagem da renovação a 100% com elementos de anteriores renovações, convenhamos, colocará as renovações das listas europeias do PS assim como as anunciadas reduções do IRS que foram propostas pelo PSD... De qualquer maneira, considero muito judiciosa esta despromoção de Francisco Assis em relação a 2014, aparecendo agora em segundo lugar atrás de Marta Temido, porque de 2014 para cá tem dado entrevistas - a inclusa na imagem acima é do Verão de 2020, em plena pandemia - em que se tem mostrado assaz imaginativo, nomeadamente no respeito histórico que devemos manifestar por Pedro Passos Coelho, tópico inoportuno de discutir nos tempos que correm.

22 abril 2024

SE HÁ PREDICADO QUE NÃO PODEMOS ATRIBUIR AO CABEÇA DE LISTA DA "AD" ÀS EUROPEIAS É O DE MODESTO...

Um entusiasmo arrogante que só é compreensível por causa dos seus 28 anos... em que se tem fartado de aparecer na televisão.
A sério e numa certa perspectiva acaba por ser uma excelente decisão de quem escolheu: o nome do cabeça de lista consegue, só por si, fazer com que eu me desinteresse saber quem são os outros 20 nomes da lista do PSD!... A lista é do PSD, o CDS está reduzido a uma espécie de clube do bolinha do Nuno Melo e foi tratado no congresso deste fim de semana de forma correspondente, precisamente pelo Sebastião Bugalho e por outros quejandos como ele.

Para que tudo fique ainda mais caricato nesta promiscuidade entre comentadores políticos e políticos comentadores, um colega de canal do novel cabeça de lista do PSD anunciara, no canal de televisão que os alberga aos dois e que é, aliás, o que acima dá esta notícia, anunciara um outro cabeça de lista, adicionando mais um à lista de gloriosos fiascos televisivos da SIC Notícias!

AS OFENSIVAS DIPLOMÁTICAS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

(Republicação)
22 de Abril de 1944. Um par de notícias de conteúdo aparentemente anódino numa das páginas centrais da edição do jornal desse dia, dá conta daquilo que era uma discreta, mas violenta, ofensiva diplomática por parte dos Aliados para que alguns países neutrais cortassem o fornecimento de alguns itens considerados vitais para a indústria de armamentos do III Reich. Numa das notícias, originária de Ancara, dava-se conta da reacção da Turquia a essas pressões, suspendendo as exportações de minério de crómio para a Alemanha, invocando a sua própria condição de aliada da Inglaterra. Noutra, oriunda de Londres, era a Suécia que ainda não respondera à nota dos Aliados, em que se lhe era pedido que suspendesse as exportações de esferas de rolamentos para a Alemanha. Havia uma campanha de bombardeamento em curso para destruir a capacidade de as produzir no próprio território alemão, e a indústria de armamentos alemã havia recorrido ao reforço das importações da Suécia para suprir as carências. A resposta sueca irá ser tão evasiva que a importância e as consequências dessa decisão ainda hoje são objecto de discussão académica: a Suécia colaborou ou não com a Alemanha? Contudo, a Turquia e a Suécia não eram os únicos países neutrais a serem pressionados naquela altura pelos Aliados: dali por mês e meio, na edição de 7 de Junho, era ocasião para ser notícia o anúncio pelo governo português da suspensão das exportações de volfrâmio para os países beligerantes. Fazia-o a pedido da Grã-Bretanha. Repare-se como os Estados Unidos pareciam nunca aparecer nestas iniciativas...

A CHEGADA DO «PRÍNCIPE PERFEITO»

22 de Abril de 1964. Confesso que foi com muita satisfação que acabei por descobrir estes registos antigos do movimento do porto de Lisboa para conseguir precisar que foi há 60 anos que o paquete «Príncipe Perfeito» acostou e desembarcou os passageiros. Eu era um dos passageiros e, como já aqui escrevera, a minha primeira passagem do Equador foi no sentido Sul-Norte.

21 abril 2024

A ELEIÇÃO DE VOLODYMYR ZELENSKY

21 de Abril de 2019. Na segunda volta das eleições presidenciais ucranianas, o candidato Volodymyr Oleksandrovych Zelensky, de 41 anos, vence-as com 73% dos votos. Na primeira volta, que fora disputada por nada menos do que 39 candidatos (!), Zelensky, já fora o candidato mais votado, com 30% dos votos. Uma vitória de tal amplitude reflecte-se no mapa eleitoral (abaixo): Zelensky foi o candidato mais votado em quase todo o país, com excepção da região mais ocidental do país. Note-se também, no mesmo mapa, as regiões que já estavam então ocupadas pela Rússia e onde não pôde haver eleições, que aparecem assinaladas a cinzento.

20 abril 2024

NUNO MELO, A "HELOÍSA APOLÓNIA" DO PSD

Segundo o que a Lusa pôs a circular, o CDS realiza o seu 31º Congresso este fim de semana em Viseu. Não havendo sequer simulacro de disputa pela liderança, o evento parece que irá decorrer perante o desinteresse geral, mesmo dos aficionados deste género de disputas políticas. O António José Teixeira ou o Sebastião Bugalho, por exemplo, não parecem dispostos a estragarem este fim de semana para irem para Viseu dizerem coisas ao fundo do pavilhão onde decorrem os trabalhos. - como acontecia no passado. Quem os viu e quem os vê... aos do CDS, já que aos outros - Teixeira, Bugalho e os outros da mesma laia - ninguém dará nada por eles se não se fizerem ser vistos, só que tem de ser nas ocasiões em que haja mesmo quem os esteja a ver, mesmo que estejam a dizer baboseiras como neste segundo caso imediatamente abaixo... Com estas significativas ausências (note-se que a imagem abaixo de António José Teixeira é do 27º congresso do CDS...), o CDS tem todo o aspecto de se ter transformado num has been para o comentadorismo político doméstico.
Noutros tempos e do outro lado do espectro, quando os comunistas ainda tinham força democrática para eleger ao menos uma dezena/dúzia de deputados, costumavam arregimentar uma organização satélite denominada partido ecologista "Os Verdes", a quem os comunistas cediam um ou dois assentos parlamentares, fingindo-se passar por uma coligação. Claro que "os (ditos) Verdes" tinham uma história de completa ausência de autonomia: contavam-se pelos dedos das mãos o número de vezes em que, durante toda uma legislatura de quatro anos, os seus dois deputados haviam votado de forma diferente dos seus patrocinadores comunistas. E as divergências nunca eram frontais: se uns haviam votado contra, os outros haviam-se abstido... A paródia de autonomia era tal que "os Verdes" eram designados em surdina e para paródia como "as melancias": eram verdes no nome e na denominação, mas vermelhos por dentro e substantivamente. As melancias eram encabeçadas - creio que ainda o são - por uma senhora simpática - e boa parlamentar - chamada Heloísa Apolónia. E foram uma organização que nunca existiu para além da coreografia parlamentar.
O que nos trás de volta à fotografia inicial, ao CDS, a Nuno Melo que o dirige (embora seja bem menos simpático do que Heloísa Apolónia), à fotografia que o exibe orgulhoso a mostrar a placa do gabinete atribuído à parelha de deputados que elegeu nas listas do PSD e ao facto de estarem condenados os dois - líder e partido - a tornarem-se também em coisas que não têm qualquer existência autónoma para além da coreografia parlamentar. Neste caso não haverá frutas correspondentes para as identificar, mas uma caneca azul forrada a cor-de-laranja transmite a ideia daquilo a que estou convencido a que o CDS está reduzido...

O MASSACRE DE COLUMBINE

(Republicação de um poste original de 20 de Abril de 2017, quando o Massacre de Columbine cumpria o seu 18º aniversário)
20 de Abril de 1999. Ao 18º aniversário do Massacre de Columbine pode associar-se o simbolismo de 18 anos ter sido a idade, não apenas dos dois autores do massacre, mas também de uma apreciável percentagem das vítimas (13 mortos e 21 feridos). Terão sido as elevadas consequências desta tragédia que terão provocado uma atenção mediática redobrada para o assunto dos tiroteios nas escolas norte-americanas. Foi aliás na sequência de Columbine que os serviços secretos foram encarregues de redigir um relatório sobre a questão, um relatório que se tornou público em 2002 e que compilava e procurava sintetizar um retrato padrão a partir das experiências recolhidas em 37 episódios semelhantes... Ora 37 é, para estas circunstâncias, um número assustador. Mas reconheça-se que os factos continuarão a interessar mais o público do que propriamente aquilo que os causou, pelo menos se atendermos à lição directa e concreta que se pode extrair da página da Wikipedia dedicada ao massacre de Columbine, onde os 27.000 caracteres dedicados à descrição metódica e detalhada de como ocorreu o massacre representam o triplo dos 9.000 onde se procura inventariar e especular posteriormente sobre quais terão sido as motivações e as causas para ele ter ocorrido.

19 abril 2024

ELE HÁ INQUÉRITOS ONDE INSEREM QUESTÕES MUITO ESTÚPIDAS!...

Ontem o jornal Público apresentou o resultado de um estudo «realizado pelo ISCSP/CAPP», estudo esse do qual conseguiu extrair um título jornalisticamente pujante, o qual podemos apreciar acima. Em síntese, aquilo que os jornalistas preferiram destacar é que, mesmo que se tenha apurado uma «maioria (a considerar) que (a) democracia é "preferível"», se - e aqui o destaque vai para a existência de uma palavra a funcionar como conjunção subordinativa condicional - não houvesse eleições, «47% apoiariam "um líder forte"». O que se poderá deduzir é que quase metade das pessoas inquiridas não verá razões para terçar armas pela existência de uma Democracia. É uma conclusão interessante sobre a nossa sociedade, cinquenta anos depois do 25 de Abril. Mas também é notório que quem seleccionou o título se esqueceu de mencionar em título que «a maioria» que refere é «esmagadora»: «87%». Talvez esse número fosse pertinente, conjuntamente com o 47%, embora o título saísse menos apelativo... e provavelmente chamasse menos leitores.

Mas o tema que me levou a postar é outro. Relaciona-se com aqueles gráficos que os artigos deste teor normalmente publicam em ilustração, para lhes conferir uma certa densidade. Como acontece neste caso concreto, frequentemente aquilo que os gráficos mostram consta das explicações do próprio texto: portanto, os gráficos são redundantes. Mas serem redundantes não constitui problema. Serem estúpidos - como acontece com o exemplo que seleccionei acima - isso é que é um problema. O gráfico em causa apresenta três cenários que só na aparência são alternativos:
a) Ter um sistema de governo democrático
b) Ter um governo de um líder forte
c) Ter um governo de especialistas

Ter um sistema de governo democrático percebe-se em que consiste. Ter um governo de líder forte já não, porque não está explícito qual é a legitimidade do líder forte. É que, se não tiver sido a legitimidade democrática que o tornou líder, a palavra forte naquele contexto será apenas um eufemismo para evitar empregar o adjectivo autocrático: líder autocrático. Mas, ainda assim, e apesar da manipulação do vocabulário, reconheço que um sistema de governo em ditadura (b) é uma alternativa a um sistema de governo democrático (a).

O que eu não percebo é de onde aparece a hipótese (c): que raio é ter um governo de especialistas em alternativa às duas opções anteriores? Tudo dependerá da legitimidade democrática de quem tiver formado esse tal governo de especialistas. Se a tiver - legitimidade democrática - então aí, tudo bem, alínea a); se não tiver, tudo mal, alínea b). E, já agora, para além de não ser uma terceira alternativa e voltando mais uma vez às questões do vocabulário: em que é que consiste um governo de especialistas? Querem ver que os investigadores do «ISCSP/CAPP» são daqueles otários que estarão convencidos que o âmbito das intervenções de um governo se pode circunscrever apenas aos aspectos técnicos das respectivas pastas? Se fizerem apenas isso, os ministros não estão a desempenhar o papel de ministros... Os ministros fazem opções políticas.

Por muito estúpidas que sejam algumas das questões colocadas, como é costume, segue-se a publicação da ficha técnica do inquérito...

É VOCÊ QUE SÓ TEM UMA «VAGA IDEIA» DE ONDE FICA O LAOS?...

Não faz mal que só tenha essa «vaga ideia» da localização do Laos. A 19 de Abril de 1964, há precisamente sessenta anos, havia lá ocorrido um golpe de Estado e, porque o leitor de então teria precisamente o mesmo problema de não saber onde é que aquilo ficava, o jornal recorrera ao expediente de publicar discretamente um mapa que ajudasse o leitor a perceber de que país se tratara. Não é que o Laos fosse muito importante em si. Não era em 1964 e continua a não ser em 2024. A ignorância do leitor era desculpável. A questão colateral é que o Laos fazia fronteira com o Vietname e, aí sim, havia um embrião de guerra em que os Estados Unidos se preparavam para se envolver, que seria o que tornava o assunto noticiosamente interessante. Agora, tanto o país como o resto da Indochina quase desapareceram do noticiário internacional, e desde que lhe façam a pergunta à queima-roupa, suponho que nem o Nuno Rogeiro sabe quem manda no Laos (uma ditadura comunista).